Um tema sério mas com uma abordagem divertida e saborosa
Sabemos que mais da metade dos estudantes do 9o ano já experimentaram alguma bebida alcoólica e mais de um quarto têm o hábito de beber. É o caso de Beto, um dos heróis dessa história, que se mete numa grande enrascada. A trama se passa na pequena Teolândia, uma cidade no interior da Bahia, onde os verões são escaldantes e as crianças se divertem na roça da Brígida, com mergulhos no rio. O engenhoso e imaginativo João e sua inseparável amiga Ana têm a missão de resgatar o amigo.
Um charmoso apelo vintage, com a presença de games como o Street Fighter no fliperama bombando e Opalões e Chevettes, povoa essa crônica de costumes encantadora, em ecos de um Brasil que se transformava a olhos vistos na década de 1980. As bikes dos garotos compartilham com os protagonistas sentimentos e emoções que fazem valer a pena ler o romance: cumplicidades e traições, dúvidas e gestos de amizade, dilemas e sofrimentos, violência e medo. Uma história humana e muito bem contada por dois craques da literatura infantojuvenil.
Os autores Neila Bruno e Antônio Roque Júnior formam uma dupla criativa e afiada para contar um pedacinho da vida de três garotos: Ana, João e Beto.
Dividido em capítulos curtos e alternando drama e comédia, Coração de Dragão: histórias sobre o álcool na adolescência, publicado em maio/2021 pelo selo Plante, é um romance juvenil fortemente ancorado na realidade. Longe de ser um libelo contra o consumo de álcool, o livro é uma crônica leve e divertida, mas que impacta diretamente seus leitores.
Neila e Antônio contam mais sobre a obra:
— Como surgiu a ideia de escrever Coração de Dragão? Foi uma vivência pessoal?
Antônio: Sempre procurei escrever sobre temas que pudessem oferecer ferramentas para lidar com problemas que afligem as pessoas. A primeira oportunidade surgiu ao fazer um livro sobre o coronavírus e agora ao abordar o problema do álcool. O livro é repleto de vivências pessoais, experienciadas ou observadas.
Neila: Acredito muito em parcerias com pessoas que têm um trabalho sério e eficaz, como é o caso do Antônio. A ideia de Coração de Dragão surgiu em 2018, quando nos conhecemos, mas pusemos a mão na massa para elaborar a história no final de 2019. O fato de ser professora me chamou a essas reflexões sobre a questão das drogas e do álcool. Por que não colaborar com uma discussão como essa?
— A ação de Coração de Dragão se passa na década de 1980 e faz referência a brincadeiras, hábitos e costumes da época. Vocês fizeram pesquisas antes de escrever o romance? Quais as diferenças e semelhanças entre as alegrias e os problemas dos adolescentes daquela época com os adolescentes de hoje?
Antônio: O fato de ambos termos vivido essa época facilitou as coisas, mas ainda assim muita pesquisa foi necessária, não só quanto ao momento retratado, mas também em relação ao espaço em que se passa a história e ao comportamento das “tribos” juvenis. Apesar de diferenças claras, sobretudo fomentadas pela facilidade de acesso e velocidade com que as informações chegam e são transmitidas hoje, ainda assim alguns dramas são atemporais, estão ligados as questões existenciais humanas.
Neila: Acho que trazer um pouco do que vivenciamos na nossa adolescência através das personagens do livro é uma possibilidade de revelar ao leitor como se comportava a garotada da década de 1990. De lá pra cá muita coisa mudou, mas acredito que valores como amizade e empatia, bem demarcados no livro, são importantes em qualquer época.
— Como vocês começaram a escrever para crianças e adolescentes? Que gêneros literários e autores você gostam de ler atualmente?
Antônio: Tudo começou por meio da parceria com as professoras Neila Bruno e Josivânia de Assis, para a produção de uma cartilha voltada para o público infantil sobre o coronavírus, intitulada Juntos contra o Coronavírus (2020, publicada pela EDITUS). Depois disso publiquei meu primeiro livro infantil, Xô, coronavírus, pela Editora Canal 6. Adoro livros sobre desenvolvimento pessoal, livros históricos e uma boa ficção.
Neila: Diferente do Antônio, comecei escrever em 2010, em 2012 publiquei meu primeiro livro infantil Maricota e as formigas. Parei por alguns anos para me dedicar ao mestrado e doutorado. Em 2018 voltei às atividades como escritora. Publiquei em 2020 o livro infantil O jabuti encantado. Quando criança me apaixonei pelos contos de fadas e também pelos livros infantis do Monteiro Lobato. Durante o período em que cursei o ensino Médio, me apaixonei pelas obras de José de Alencar, sou superfã do romance Senhora. Amo romances! Gosto muito dos livros da Adriana Lisboa, de Ricardo Lísias, Daniel Galera e também da autora Simone Campos.
— Neila, você acredita que sua experiência como professora e contadora de histórias tenha ajudado na criação de suas personagens?
Neila: Sim, sempre estou me inspirando em alguém que faz parte do meu convívio diário. É sempre bom observar o comportamento das pessoas, especialmente dos jovens. A escola é um laboratório.
— Antônio, você acredita que a convivência com adolescentes e problemas com drogas e conflitos familiares contribuiu com a criação de Coração de Dragão?
Antônio: Certamente. O trabalho na área de segurança pública permite vivenciar de perto graves problemas sociais e também as consequências deles.
— Uma característica muito particular do romance de vocês é o humor e a leveza para tratar de assuntos importantes. Podem falar um pouco mais sobre isso?
Antônio: Acredito que seja uma característica muito marcante no nordestino a capacidade de lidar com situações sérias de forma leve através do recurso do humor. Essa é minha forma de encarar a vida e isso é refletido na minha forma de escrever.
Neila: Sempre observei como alguns autores conseguem falar de temas sérios com certa leveza e também com delicadeza, quis trazer isso para esse projeto. Sempre comentava com o Antônio sobre as formas de trazer esse problema do álcool de forma leve para nossos leitores.
— Vocês já têm planos para os próximos livros?
Neila: Penso que um autor passa por várias fases. Quando comecei a escrever eu era praticamente uma menina, pensava em escrever mais por hobby. Hoje mudei muito minha visão em relação a esta atividade, e todos os dias penso em oferecer algo mais profissional, textos com uma melhor qualidade para meus leitores. Tenho o sonho de escrever sobre relacionamentos afetivos. É uma temática que já venho pesquisando há cinco anos. Ainda não tive coragem de colocar no papel, mas penso que uma hora isso irá acontecer.
Antônio: Há alguns projetos em conclusão, dois livros para o público infantil e nosso primeiro projeto para o público adulto.
Sobre o livro
- Título: Coração de Dragão: histórias sobre o álcool na adolescência
- Autores: Neila Bruno e Antônio Roque Júnior
- Ilustrações: Mary Mos
- Páginas: 120
- ISBN: 978-65-86055-38-2
- Preço: R$ 45,00
- Onde comprar: Canal 6 Livraria Amazon
- Público-alvo: crianças a partir de 11 anos, adolescentes e adultos
- Áreas: Língua Portuguesa, História, Ciências, Educação Física e Temas transversais (Saúde)
- Temas principais: mudanças na adolescência; tribos urbanas e modo de vida nos anos 1990; consumo abusivo de álcool; amizade.